Arte é conhecimento e livre expressão do sujeito. No Brasil, ensinar arte é ainda um grande desafio. E isso já vem de longe. O Ensino de Arte vem sofrendo alterações em seus objetivos ao longo de sua história.
Durante muito tempo a disciplina esteve voltada em educar para o lar, como preparação para exercer papéis na família, com atividades de desenho, canto e trabalhos manuais. Tempos depois da evolução da Escola Nova e Tecnicista, passou a se chamar Educação Artística e voltou-se para o ensino de técnicas específicas e quase foi excluída do currículo escolar. Somente nos anos 80, é que o reflexo do Movimento Modernista influenciou o rompimento das técnicas acadêmicas e trouxe um novo olhar para o ensino da Arte.
Porém, romper com o velho e incorporar o novo não é assim tão fácil, na verdade atualmente não são muitos, os professores que veem esse ensino como importante para o desenvolvimento do aluno. Os que se interessam utilizam as atividades da disciplina Arte como recreação, passatempo, relaxamento, ou pior ainda como apêndice de apoio ao desenvolver projetos de outras disciplinas. E o mais grave, quando a escola possui um bom professor de Arte, esse é logo requisitado para trabalhos de ornamentação, organização de eventos, coordenação de projetos ou produção manual de material de apoio, deixando sua principal função a desejar ou em segundo plano.
Ensinar Arte de fato exige estudo, planejamento e avaliação do trabalho. Mas não tratemos de apontar culpados. E sim refletirmos sobre o contexto do problema. O fato do professor não valorizar esse ensino se deve a falta de formação. Nos cursos de professores a carga horária é sempre mínima quando se trata desse eixo do conhecimento
Na escola as atividades de artes plásticas realizadas com maior frequência são o desenho temático no apoio de projetos interdisciplinares ou datas comemorativas, a colagem e a pintura com lápis de cor, de cera e eventualmente com tinta guache. O desenho livre vem sendo timidamente incentivado ultimamente. O teatro e a dança são trabalhados somente para as datas comemorativas. A música somente ouvir ou cantar, quando muito. Outras artes, como o cinema, a fotografia e a escultura são raras. Geralmente ficam esquecidas, mesmo nas Escolas de Ensino Médio, onde fazem parte da currículo. São pouquíssimos os professores que oportunizam seus alunos a se expressarem por meio dessas linguagens.
Os desenhos dos adultos jovens de hoje, em sua maioria estereotipados, denunciam a falta de acesso a esse conhecimento que a escola não proporcionou. Os professores reagem dizendo que precisam ensinar a “ler, escrever e contar” por causa dos testes nacionais e estaduais. Ou que precisam dar conta de seus conteúdos para não descerem nas estatísticas. Não conseguem perceber que o desenvolvimento artístico de um aluno, além de desenvolver sua autoestima, “abre as portas” e desenvolvem a inteligência para outros conhecimentos. No geral, na Educação Infantil esse processo acontece um pouco melhor, pois de certa forma o professor sente-se mais livre para experimentar o processo criador do aluno.
Nas últimas formações de professores no Acre, tem-se discutido a necessidade de trabalhar os artistas de reconhecimento social na escola, utilizando a metodologia triangular, técnica de Ana Mae, em três etapas: Apresentação e estudo das obras, contextualização e só então a criação pelo aluno a partir da obra do artista. “É preciso dar um novo sentido ao ensino de Arte. As atividades devem instigar a autonomia dos alunos e os critérios de avaliação atuais repensados, pois não existe uma maneira certa de fazer arte.” Diz Tatiana Fecchio, Professora e Dra. em Arte pela UNICAMP. O potencial criador do aluno não deve ser limitado. Suas produções devem ser expostas à comunidade escolar e aos pais em feiras, exposições, reuniões ou outros eventos, para serem apreciadas.
Trabalhos de Arte (acima) dos Coordenadores Pedagógicos no Curso de Formação de Professores – Acre 2011. Ministrado pela Dra. da UNICAMP – Professora Dra. Tatiana Fecchio – foto abaixo.
Devemos então, a partir de outros parâmetros construir um novo caminho para esse ensino, cedendo vez ao artista que se percebe no mundo enquanto sujeito e se expressa como tal, através de sua arte. Onde o “Está bonito” não tenha vez e o que mais importe seja o processo criador. O papel do professor é garantir o respeito ao fazer artístico do aluno, durante o seu desenvolvimento. E viva a arte!